sexta-feira, 3 de junho de 2011

No banco

O trabalho no banco não era nada desafiador. Um pouco rotineiro, cansativo, previsível. Mas afinal era o grande meio para minha independência. Boa oportunidade também para conhecer novas pessoas, se bem que sou um pouco devagar nisso. Levo tempo para me afeiçoar. Meus colegas eram de fácil convivência, embora às vezes me cansasse das piadinhas e brincadeiras repetitivas e sem graça. Convivência enfim! Quanto aos meus superiores, não tenho muito o que reclamar. Também não esperava muita coisa deles.

Meus colegas mais próximos eram Cássio e Luciene. Ele mais velho, ela um tanto inexperiente. Com ele aprendia o ofício, com ela dava boas risadas. Havia outros colegas com quem me simpatizava. Às vezes ia com eles tomar algumas cervejas depois do expediente na sexta. Um hábito que estava começando a adquirir. Não podia me exceder, pois tinha pouca experiência e poderia fazer alguma coisa errada. Não queria virar motivo de piada no trabalho! Depois de alguns copos já queria me soltar e era aí que me dava uma vontade danada de me montar. Passei a ir todas as sextas usando calcinha. Primeiro com a que roubei da minha prima, depois com as que fui comprando. Quando ia no banheiro do boteco, dava vontade de baixar minha calça e mostrar minha bundinha redondinha, lisinha. Mas nunca bebi o suficiente para isso.

Apesar de gostar de ser uma crossdresser, até ali eu continuava heterossexual. Mas eu tinha tido pouca experiência com mulher, ou melhor, sexo em geral. O pessoal do banco, pelo menos no discurso, era mais experiente e eles gostavam de me provocar:
- E aí, rola alguma coisa com a Luciene?
- É só amizade - era o que eu sempre dizia.
- Ah não - algum deles retrucava - tem mais coisa aí. Ela tá dando moleza hein! Se você não pegar, eu pego.- Aí a zoação era geral.
- Quem disse que ela vai sair com um tapado como você? - E ia por aí afora. Conversa de bancário. Pelo menos o foco já não era mais eu. E o que diriam eles se soubessem que eu usava calcinha? Ali naquele exato momento?

Comecei a criar o hábito de passar pelas lojas de lingerie no centro da cidade, perto do banco, sempre que podia. Entrava e ficava só olhando. Ficava sem jeito no início, como se todos estivessem olhando para mim e se perguntando o que eu fazia ali. Depois fui percebendo que eu não chamava tanta atenção assim. Pelo menos enquanto não estava comprando. As lojas de departamento eram as melhores: Marisa, Americanas, C&A, Renner etc. Ali eu podia passear à vontade sem ser perturbado. Imaginava que um dia, quando pudesse, iria comprar minhas pecinhas e eu não tinha a menor intenção de ser atendido por uma balconista! Assim passava o tempo, às vezes parte do meu almoço, me deliciando com toda aquela lingerie, me imaginando vestindo tantas daquelas peças sensuais e me sentindo, claro, sexy. Não via a hora de ter minha liberdade. Quando chegaria?

Depois do almoço voltava para o meu trabalho enfadonho. Ainda bem que ao menos a vida lá fora era mais agitada. Lembrava então da minha vidinha no interior e já me sentia mais animado. Era um trabalho muito repetitivo e, como já disse, minhas companhias não tornavam as coisas muito melhores. Gostava da Luciene, mas não era suficiente. Corria o risco de enjoar da sua companhia, pois já começava a sentir falta de diversidade. E depois ainda tinha que voltar para a casa dos meus parentes, ou seja, não era exatamente minha casa. Não podia me sentir à vontade. Essa situação precisava mudar. Ou melhor, eu precisava me mudar com urgência.

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